sábado, 8 de agosto de 2015

Tradição e produção das cervejas belgas


Aos amantes do líquido sagrado, a Bélgica é o lugar perfeito para experimentar e degustar muitos tipos de cerveja. Então, hoje vou explicar um pouquinho sobre os tipos de produção. Depois, é só escolher o que melhor se adapta ao paladar. 

A bebida é simples e contém preferencialmente esses ingredientes: água, malte, lúpulo e cevada. Também, outros ingredientes podem participar do processo de fermentação, como cascas de frutas e muitos temperos e iguarias. O legal é que na Bélgica não existem normas rígidas quanto aos ingredientes, quanto mais diferentes e "cheirosos" melhor. A preocupação aqui fica em torno dos processos (que estão descritos abaixo) e da escolha de copos e taças: para cada tipo um modelo.  

Dizem que um dos aspectos que fazem das cervejas belgas as melhores do mundo é pela sua água, que tem qualidade acima da média. 





Um pouquinho de história


A cerveja belga surgiu há muitos séculos atrás, fala-se no ano de 1100, junto com as primeiras Cruzadas, onde as Abadias francesas e flamengas fabricavam a bebida com permissão da Igreja Católica, objetivando arrecadar fundos. Na época, a Bélgica ainda não era independente, o teor alcoólico era baixo e as cervejas eram utilizadas pela população no lugar da água que era impura e transmitia muitas doenças, levando povoados inteiros à morte. 

Isso só foi descoberto quando, nesses povoados, somente as mulheres e as crianças vinham a óbito e os bêbados mantinham sua saúde normal. Identificaram então que, tanto as mulheres quanto as crianças, bebiam água enquanto os beberrões só bebiam cerveja. Assim, a bebida passou a fazer parte do dia-a-dia como algo nutritivo e sanitário.

Durante sete séculos as técnicas de produção foram aprimoradas e, com a Revolução Francesa, muitos Monges franceses refugiaram-se nessa região. Dizem que as cervejas de frutas vermelhas (cereja, framboesa) são herança dos franceses que, ao chegarem aqui, não encontraram uvas e um local próprio para esse plantio.  


  



O pão líquido de cada dia, ou melhor, um sanduíche engarrafado


Outra curiosidade é que, em longos períodos de jejum, os Monges só bebiam água e cerveja, ingerir líquidos não era considerado pecado e eles permaneciam por longos dias sem comida. 


Dos processos da bebida à sua tradição


As tradicionais cervejas belgas podem ser produzidas, basicamente, de duas maneiras: em Mosteiros, por Monges, e em cervejarias comerciais, com licença de algum Mosteiro.


Cervejas Trapistas (Trappist beer)


A mais tradicional das produções. As cervejas são produzidas em baixa escala, específicas, dentro de mosteiros e por Monges Trapistas. Existem apenas 11 mosteiros em todo o mundo e 6 deles ficam aqui no país. A bebida é produzida desde o período da Idade Média e era fabricada para alimentar a comunidade, fato que se deve ao alto teor nutritivo da bebida feita de cevada, malte e água. 

Um dos aspectos importantes em relação às trapistas é sobre seus lucros: além de serem feitas dentro de Mosteiros o lucro da venda deverá ser utilizado em melhorias do local, bem como, com causas sociais. 

É possível visitar os locais, porém, a venda é feita com parcimônia. As garrafas são vendidas por pessoa e sob o "juramento" de que nenhuma garrafa será repassada a terceiros. 

É o que dizem por aqui! 

As 6 produções belgas: Rochefort Brewery (1595); Westmalle Brewery (1836); Westvleteren Brewery (1838); Chimay Brewery (1863); Orval Brewery (1931) e Achel Brewery (1998).





Cervejas Abadia (Abbey beers)


São as cervejas produzidas ao estilo monástico. Ou ainda, um produto "similar" às cervejas trapistas, produzidas por cervejarias comerciais em maior escala, sob licença de uma Abadia e com menos rigidez quanto às normas trapistas.

Geralmente sua produção é feita em Mosteiros que não sejam da ordem Beneditina; por cervejarias comerciais que tenham feito algum acordo com o Mosteiro; por cervejarias que levem o nome de Mosteiros "extintos"; ou por uma marca comercial que não mencione um Mosteiro específico. 

Em 1999 houve uma certificação das cervejas Abbey pela União dos fabricantes de cervejas belgas, onde criou-se um selo de referência, o "Certified Abbey Belgian Beer"

Para obter o certificado, o Mosteiro terá de controlar alguns aspectos comerciais e parte do lucro deverá ser usado com instituições de caridade selecionadas pela Abadia.

As marcas certificadas: Abbaye de Cambron; Abbaye de Bonne Espérance; Abdij Dendermonde; Abbaye de Saint-Martin; Affligem Abbey; Brasserie de l'Abbaye du Val-Dieu;  Brouwerij Van Steenberge; Floreffe; Grimbergen; Keizersberg; Leffe*;  Maredsous; Brouwerij De Smedt;  Brasserie du Bocq; St. Feuillien; Brouwerij De Gouden Boom;  Brouwerij Haacht; Brouwerij Roman.

Mesmo com o processo de certificação é possível encontrar outras cervejas "Abadia", porém, sem o certificado. Então, diz-se que são cervejas "ao modo" Abadia.





Além da tradição das Trapistas e das Abadias, existe também a produção em larga escala de rótulos da gigante cervejaria InBev (Ambev + Interbrew), produtora da Brahma e da Stella Artois. Essa com unidade também no Brasil.

*Leffe: Abadia Notre-Dame de Leffe, 1152. Fabricada por uma grande cervejaria, InBev.




Espero que tenham gostado. Eu fiquei com água na boca (hehehe).


Bisous!



Sites relacionados:

http://www.globalbeer.com/
http://www.economist.com/
http://www.belgianbeerday.com/
http://belgianbeerjournal.com/



*Imagens: Ana Laura Visentini

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